Filosofia & Conceito

A minha cozinha está assente em quatro pilares chave, todos com a mesma importância, que se reflecte em cada criação, em cada experiência levada a cabo, seja qual for o propósito.

As influências como um conjunto de memórias das quais o Homem não se poderá nunca dissociar, está implícito no seu ser em pleno, são um dos pilares chave da cozinha que desenvolvo. Mas as influências vão para além das memórias, são reflexo também das tradições e dos costumes que identificam todo um povo. Trata-se até de transportar os reflexos culturais para um modo de vida. A própria globalização e a sua necessária adaptabilidade à realidade em constante mutação fazem da minha cozinha permeável a novas exigências, novas modas, novas tendências. É um mundo em constante processo de transformação que exige um perseverante processo de (re) criação. A todas estas influências junta-se uma outra de cariz mais social e de certa forma até mais pessoal, são as pessoas que de uma forma ou de outra nos marcam, nos semeiam ideias que inesperadamente se revelam marcantes. São os amigos que com a sua mestria nos felicitam e encorajam e são também eles que nos chamam à razão quando as emoções estão ao rubro. Os colegas de profissão que nos apoiam ou que simplesmente nos acompanham no percurso, umas vezes em linha recta outras em curvas sinuosas, mas que chegam à meta connosco e acrescentam à nossa vida mais um bocadinho de essência.

Um outro pilar fundamental e imprescindível são os produtos, a matéria que torna possível a criação de pratos surpreendentes, inesperados por vezes, em ligações mais simples ou mais complexas, os produtos estão lá, estão sempre lá. Provenientes de variados locais, muitos com carácter singular e único, outros comuns e abundantes, a biodiversidade potencia o acto de criar e recriar. A denominação de origem dos produtos tornou-se num instrumento fundamental para garantir a qualidade e a genuinidade e, por consequência, fomentar a confiança nos consumidores. O ritmo da natureza pautado pelo encadeamento das estações do ano potencia uma variedade de produtos mais ricos na sua época, com as suas características no seu auge porque o ciclo da natureza assim o dita. Nesta linha de ideias não se pode deixar de referenciar a importância em crescendo da agricultura biológica, sempre em sintonia com a sustentabilidade da casa Terra.

Há ainda a vertente sensorial que tem por base os sentidos, ponto de partida e de chegada de qualquer experiência. Porque o processo criativo subjacente à conjugação de texturas, cores, aromas e sabores pressupõe o estímulo dos sentidos de quem cria e inevitavelmente provoca os sentidos do consumidor. Os sentidos funcionam como um laboratório virtual, palco de experiências cujas cobaias são os próprios consumidores. Emocionalmente o próprio prazer no acto da confecção e pela cozinha como um todo faz circular um turbilhão de sentimentos que se manifestam em todas as criações.
As técnicas e a tecnologia são condição sine qua non para todo este projecto de cozinha cultural, moderna e evolutiva. Esta é a última das vertentes em que assenta este projecto, um projecto de cozinha cultural, moderna e evolutiva. Tal conceito só se torna possível com o acompanhamento atento e constante das novas tendências, inovando-as e renovando-as. E todo este processo carece da aplicação da tecnologia que neste universo se revela imprescindível, só assim se torna possível o conceito de cozinha tecnológica, sempre em constante evolução e consequente aprendizagem.
A par dos grandes pilares já descritos em que se sustenta concertadamente todo este projecto em momento algum se poderá descurar a importância do trabalho em equipa no verdadeiro sentido do termo, não como um conjunto de pessoas que têm obrigatoriamente de partilhar o mesmo local de trabalho e em que cada um trabalha unicamente como cumpridor de tarefas. Acima de tudo a equipa tem de partilhar do mesmo princípio, dos mesmos meios e dos mesmos fins, com base no respeito mútuo, na partilha e na confiança. Estes valores reflectem-se em cada uma das criações porque para cada uma delas está o trabalho de várias pessoas.

Também as condicionantes emocionais têm o seu peso e que não é assim tão pouco, é condição obrigatória o bom ambiente de trabalho e a estabilidade emocional de cada um dos membros da equipa, entenda-se estabilidade tanto a nível profissional como pessoal. Só reunindo estes requisitos estarão alcançadas as condições para se ter uma equipa altamente motivada e predisposta para alcançar todo e qualquer desafio.

Em momento algum se deve esquecer que a cultura é a maior e melhor expressão de um povo, para mim é um privilégio pertencermos a uma sociedade onde o culto da mesa é como uma religião. O conceito proposto irá sempre convergir no sentido de promover uma cozinha cultural, moderna e evolutiva. A cozinha como acto de criação é mais uma das mais belas artes e não uma cozinha que só alimenta. É uma cozinha de influência mediterrânea, criativa e multissensorial com apontamentos internacionais da minha vivência. É uma cozinha de inspiração moderna onde a tradição e as novas tendências gastronómicas fazem desta cozinha como que um despertador para os sentidos.

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